11 de abr. de 2011

É TEMPO DE CRESCER!

ADORAÇÃO COMO CONFRONTO

TEXTO: Atos 10,09-23

INTRODUÇÃO
      Não é difícil tratar da experiência de adoração como uma experiência de Encontro. Há vários textos bíblicos que assim a apresentam: "Buscai ao Senhor enquanto pode ser encontrado, invocai-o enquanto está perto" (Is 55:6);
"Buscar-me-eis e me encontrareis quando me buscardes de todo o coração" (Jr 29:13); e "o Reino de Deus é semelhante a dez virgens que saíram para o encontro com seu noivo" (Mt 25:1). A adoração como encontro fundamenta-se na graça de um Deus que se oferece em relacionamento.
      Mas a Palavra não apresenta apenas o Deus que vem "ao encontro". Apresenta igualmente o Deus que vem "de encontro", transformando a experiência da adoração numa experiência de Confronto. Assim acontece com Jacó, que luta com Deus e perde os movimentos de uma perna (Gn 32:13-32); com o salmista, que declara-se "vencido pelo golpe da mão de Deus" (Sl 39:7-13); e com Jeremias, dono de uma das declarações mais intensas e profundas neste sentido: "iludiste-me, Senhor, e iludido fiquei; foste mais forte do que eu e prevaleceste" (Jr 20:7).
      A adoração como confronto fundamenta-se no caráter de um Deus que convida o adorador à renúncia e à transformação.
      Assim acontece com Pedro, numa experiência que se configura em exemplo de adoração como confronto.
      Note alguns elementos importantes: Pedro está em fraqueza - com fome - quando é arrebatado em êxtase. Não têm forças para resistir Àquele que o confronta.
       Diante de si vê descer do céu um lençol com animais de toda sorte, convidando-o a romper com sua tradição religiosa e cultural. O confronto ameaça as bases de sua religiosidade. De fato, Pedro precisa ser transformado seriamente por Deus para poder ser usado extraordinariamente no projeto de Deus.
      O problema é que havia, até então, na igreja iniciante de Jerusalém, uma certa dificuldade em relação aos gentios. Apesar do Pentecostes e do grande avivamento inaugurado, os cristãos-judeus limitavam-se a pregar apenas para os judeus. Não haviam superado as barreiras de uma religiosidade judaica que os impedia de sair às nações. Era preciso que fossem confrontados pela vontade de Deus.
      E Pedro, que na ocasião desfrutava de posição de grande destaque e liderança, deveria ser o primeiro. Seu exemplo e experiência tornam-se, então, um desafio a respeito de paradigmas que a verdadeira adoração deve confrontar.

1. O PARADIGMA DA HIPOCRISIA RELIGIOSA!
      Pedro, extasiado diante da visão, verbalizou - inconscientemente ou não - sua posição ideológica ante o pedido celestial: "de modo nenhum, SENHOR" (vv. 13 e 14a).
      Sua frase, revela a incoerência que lhe era - e que nos é - peculiar: chamou de Senhor aquele a quem negava obediência.
      E eis o drama da hipocrisia religiosa: trata-se de uma dicotomia entre "palavras e obras" na vida do pretenso adorador. Como afirmou Jesus, censurando os religiosos de sua época: "este povo honra-me com seus lábios, mas seu coração está longe de mim" (Mt 15:8).
      O desafio da adoração como confronto reside, em primeiro lugar, na superação da hipocrisia.
      Adoração exige sinceridade. Não há verdadeira adoração onde as máscaras permanecem irremovidas.
      Como na parábola, em que um fariseu faz sua oração batendo no peito e "agradecendo" a Deus por não ser como o "coitado" do publicano, o adorador que desconhece seu pecado e sustenta-se em sua própria espiritualidade não encontra justificação.
      A verdadeira adoração confronta a hipocrisia e estabelece uma relação de obediência. "Vós sois meus amigos - disse Jesus - se fizerdes o que eu vos mando" (Jo 15:14).
      Certa ocasião, Jesus contou esta parábola: "Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus" (Mt 21:28-32).   Arrependimento e obediência, portanto, são palavras-chave. E Pedro precisou que a visão se repetisse por três vezes até que estivesse disposto a obedecer (v.16).

2. O PARADIGMA DAS CONVENÇÕES E PRECONCEITOS RELIGIOSOS!
      Pedro não mentiu e nem sequer exagerou quando disse: "jamais comi algo impuro ou imundo" (vv. 14 b e 15).
      Isso porque essa opção "gastronômica" não estava baseada em aspectos nutricionais ou de paladar mas em aspectos culturais e acima de tudo religiosos. Os judeus não incluíam no "cardápio" nenhuma espécie de animais que a legislação vétero-testamentária considerasse imundos.
      Sua resposta reflete uma prática que, até então, Pedro associava ao caráter e à vontade de Deus.       Esqueceu-se que, quando andava com Jesus, viu-o romper com certas tradições "engessadas" e infrutíferas quanto ao resgate do relacionamento com Deus e da dignidade humana.
      Esqueceu-se que Cristo, como mediador de uma nova aliança, superou a legislação corretiva do AT em nome de um resgate dos paradigmas fundamentais da criação: "viu Deus que tudo era bom!" Transformou sua religiosidade e tradição em preconceitos e convenções que agora era desafiado a rejeitar.
      Convenções e preconceitos são fatores geradores de "estagnação espiritual". Atrofiam o crescimento do crente e impedem seu amadurecimento.
      O desafio da superação de preconceitos e convenções é o desafio da adoração como conhecimento de Deus.
      Não há verdadeira adoração onde não há sede de aprofundamento da intimidade. Nas palavras do salmista: "como a corça anseia por águas, assim minha alma tem sede do Deus vivo" (Sl 42).
      E Pedro alcançou vitória sobre seus preconceitos e convenções. Assumiu a visão que lhe vinha dos céus como oportunidade de crescimento. Diz o texto que os representantes de Cornélio chegaram "enquanto [Pedro] refletia na visão..." (vv. 17-20).
      Descobriu que para ser adorador deveria abrir-se para uma adoração que confronta convenções e preconceitos estabelecendo o amadurecimento espiritual.
      Aprendeu o que aprendeu a samaritana, quando ouviu Jesus dizer que "nós adoramos o que conhecemos" (Jo 4:22). Somos desafiados a conhecer a Deus tal como é e tal como se revela a nós em Cristo; e não como projeção de nós mesmos ou como gostaríamos que fosse. Isso também é verdadeira adoração.

CONCLUSÃO
      O desafio apresentado a Pedro pela visão que Deus lhe deu é também o desafio de Deus para todo adorador: uma experiência de adoração como confronto. Na verdadeira adoração os paradigmas nos quais o adorador apóia-se em função de sua humanidade devem dar lugar à confiança e à entrega sem reservas aos cuidados de Deus.
      Preconceitos, convenções, hipocrisias, vontades particulares, etc., devem dar lugar ao desejo sincero e genuíno da submissão à vontade de Deus.
O "eu" do adorador deve ser sempre confrontado pelo "Eu sou".
      Jesus experimentou a adoração como confronto no Getsêmani.
      Suando grandes gotas de sangue, em oração suplicou ao Pai para que, se possível, afastasse dele o cálice do qual estava prestes a beber.
      Nada mais natural e humano: que o adorador apresente-se ante o trono da graça em busca de salvação, livramento e vitória. Mas como adoração é confronto, o filho de Deus em sua súplica abriu-se para a soberania de Deus: "contudo não seja feita a minha vontade, mas a tua".
      O adorador Jesus, confrontado pela vontade do Pai, estava pronto para assumir sua vocação e desafio. E os anjos o consolaram (evento!!!).
      Como Jesus, somos desafiados ao confronto entre a vontade soberana de Deus e nossa mesquinha e humana vontade.
      A vontade dele triunfando, trará paz, alegria, amor e, sobretudo, intimidade com Deus. E para isto, o Espírito Santo apresenta-se como Aliado. Sua operação no coração do adorador na experiência de confronto abre as portas para a vitória absoluta de Deus em seu caráter. E a vitória de Deus é, assim, a vitória do adorador.
      Que o Espírito Santo conceda coragem e fé para uma adoração submissa e sincera.

 


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